Aos céus.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Acordei às seis da manhã, meu corpo continuava cansado, minha mente estava dispersa e, pra ser honesta, ainda está. Os pensamentos pareciam embalar uma valsa desordenada. Na noite anterior, o escarlate reluzente naquela taça parecia meu próprio sangue que fora perdido na guerra de manter-me viva. Era quase o sangue que corria em minhas veias, como a vida que se perdera. Eram insanidades feitas em líquido fino, em seda que se bebe. Deixei dentro daquela taça de cristal, alguns pequenos planos e sentimentos em troca da minha lucidez e vigor. Selamos então nosso pacto com um beijo.

 Logo nas primeiras horas deste dia, observei um céu que anunciava tempestade e algumas árvores distantes. Aquele cenário parecia me encarar com pesar. Decerto, também se lamentava pelo estado decadente da humanidade. Como alguém que fala mas não é ouvido. Como quem brada com trovões, mas em seu interior, há uma criança inocente de olhos marejados, entregue ao abandono e ao esquecimento. O dia é acinzentado, sem brilho algum. Vivenciando o luto por um povo cego em dores. O céu me olhava e confiava me contar suas tristezas, como gritava o meu coração, choramingando pelas prisões às quais era entregue. Assim também suspirava a minha alma, trocando confidências e buscando conforto. Até o verde opaco das folhas tentava contar histórias, mas tudo e todos estavam amordaçados. Silêncio. Chore em silêncio.

 Inunda mesmo essa terra, tempestade. Eu entendo. Eu vi, Criador e criação, chorarem juntos sem nem saberem mais a quem pertenciam aquelas lágrimas. Era só chuva. Porque me foi contado em segredo que o sangue derramado sobre este solo é o vinho oferecido aos céus. Pois então, que choremos em nossa embriaguez. Depois o sol aparece por trás de uma nuvem qualquer, o céu fica mais claro e abre um sorriso singelo como quem diz: "Já passou". É... temos muito em comum.

1 comentários:

Lu disse...

uaaaaaaaaaau!

vamos nos embriagar então enquanto os céus choram por nossa desgraça.