Acordei às seis da manhã, meu corpo continuava cansado, minha mente estava dispersa e, pra ser honesta, ainda está. Os pensamentos pareciam embalar uma valsa desordenada. Na noite anterior, o escarlate reluzente naquela taça parecia meu próprio sangue que fora perdido na guerra de manter-me viva. Era quase o sangue que corria em minhas veias, como a vida que se perdera. Eram insanidades feitas em líquido fino, em seda que se bebe. Deixei dentro daquela taça de cristal, alguns pequenos planos e sentimentos em troca da minha lucidez e vigor. Selamos então nosso pacto com um beijo.
Logo nas primeiras horas deste dia, observei um céu que anunciava tempestade e algumas árvores distantes. Aquele cenário parecia me encarar com pesar. Decerto, também se lamentava pelo estado decadente da humanidade. Como alguém que fala mas não é ouvido. Como quem brada com trovões, mas em seu interior, há uma criança inocente de olhos marejados, entregue ao abandono e ao esquecimento.
O dia é acinzentado, sem brilho algum. Vivenciando o luto por um povo cego em dores.
O céu me olhava e confiava me contar suas tristezas, como gritava o meu coração, choramingando pelas prisões às quais era entregue. Assim também suspirava a minha alma, trocando confidências e buscando conforto. Até o verde opaco das folhas tentava contar histórias, mas tudo e todos estavam amordaçados. Silêncio. Chore em silêncio.
Inunda mesmo essa terra, tempestade. Eu entendo. Eu vi, Criador e criação, chorarem juntos sem nem saberem mais a quem pertenciam aquelas lágrimas. Era só chuva. Porque me foi contado em segredo que o sangue derramado sobre este solo é o vinho oferecido aos céus. Pois então, que choremos em nossa embriaguez. Depois o sol aparece por trás de uma nuvem qualquer, o céu fica mais claro e abre um sorriso singelo como quem diz: "Já passou". É... temos muito em comum.

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1 comentários:
uaaaaaaaaaau!
vamos nos embriagar então enquanto os céus choram por nossa desgraça.
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