Mãe, espero que a senhora me perdoe, mas hoje eu pequei. Não sei se tenho mais salvação, todos os dias alguem aparecia com os "bang" pra nós aqui nesse buraco. Porém nos últimos dias pararam de trazer, não sei quem trazia, só sei que era bom, era cômodo, era até, prático. Podia jurar que vinha praticamente por mágica. Téo era quem trazia. Não me importava como, mas ele trazia para todos nós aqui embaixo. Só que ontem ele não conseguiu e me pediu ajuda pra conseguirmos mais, quem sabe até trocar esse buraco malcheiroso por um lugar mais limpo. Ontem, durante o efeito, eu vi algumas ratazanas comendo o pé de um colega de buraco. Não sei se isso foi minha imaginação ou aconteceu mesmo.
Assim que saí meus olhos arderam. Estava algumas semanas longe da luz do sol. Téo me entregou um embrulho e disse que eu só precisava mostrar pra pessoa e pedir o dinheiro que me dariam. Como eu estava praticamente neurótica sem aquilo em mim eu topei sem hesitar. Saí andando apressada, quanto antes eu fizesse o serviço antes eu teria a droga. Abri o embrulho... era uma faca dessas de cozinha toda enferrujada. Fiz o que Téo disse. Roubei a carteira e o celular de uma menina que não deve ter mais de 20 anos. Na hora me senti triunfante, vitóriosa, comprei e troquei tudo por elas. Em meia hora eu estava em um beco. Perfeito. Me senti o máximo sabia? Eu podia fazer tudo, era só balançar aquela faca na frente e pedir que me dariam o dinheiro!
Mas agora... agora que o efeito passou eu passei a me sentir terrivel. Como eu pude? Não sei quem é a pessoa que roubei, não olhei nem o rosto dela, não sei se era loira, morena, baixinha, alta, nem mesmo posso dizer se ela era menina ou idosa. Só sei que era mulher pela voz fina, irritante, dizendo "calma, não me mate...". Mãe, vem me salvar? Me tira daqui por favor. Nem que tenha que me matar, mas não quero mais fazer isso. Lá vem o Téo... é hora.
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