Carmélia,

sábado, 11 de outubro de 2014

vá embora.
Não sinta saudade, não olhe para trás, não cozinhe para mim. Acorda, mulher, vá cuidar de você. Nunca cuidei de você, por que você cuidou de mim? Porque lavar, passar e cozinhar pra um homem como eu? Eu nunca pedi isso, mulher. Vai embora. Você não precisa de mim.
O que eu te dei que você não possa conseguir?
Meio tostão furado, uma casa qualquer, algum cartão de crédito. Na verdade, é tudo teu.
Recupere teu trabalho, por que fechou a loja? Você gostava tanto.
Eu nem gosto mais de você. 
Gostava daquela garota apaixonada pelos doces que fazia, encantada com as pessoas diferentes que frequentavam aquela loja em que eu também frequentei. Me prendi nos olhos da moça, gostei tanto tanto tanto dela que a quis pra mim.
Te conquistei com três cafés. Palavras apaixonadas e passeio de mãos dadas.
Queria ela só pra mim. E tive.
Mas ela foi embora com o tempo. Acho que matei minha Carmélia quando quis que ela fosse mais minha do que dela. Morreu a minha garota. 
Se foi o brilho nos olhos da moça, nem mais doce e nem mais graça nas pessoas.
Roupa lavada, casa limpinha. Poucos amigos porque é só minha a minha garotinha.
Perdeu a vontade de ir aos lugares, perdeu a curiosidade que eu admirava. 
Vá embora, mulher. Fui um assassino. Assassino de você.
Retome tua vida, pelo amor de deus, me deixa. Case-se consigo, mulher, e cuida mais de ti do que cuidou de mim.



com (pseudo)amor, 
o seu bem querer,
arrependido por assassinato de você;
João.