Há uma luz que nunca se apaga

domingo, 9 de novembro de 2014

Não sei como te chamar, não quero usar teu nome aqui porque eu nunca te chamei pelo teu nome. Em contrapartida já não me sinto íntima pra te chamar pelo apelido.
Uma das piores coisas em ver alguém partir é não saber quando esse alguém vai voltar e se ele vai voltar. Já ficou clichê sentir sua falta. Eu perdi as contas de quantas pessoas já me ouviram falar a seu respeito, mas nunca é suficiente. Eu falo de você como se em algum momento essa coisa aqui dentro fosse passar, mas nunca passa. Falo de você como se falar fosse te trazer de volta, mas nunca traz. Não vai trazer. Sabemos que essa é mais uma carta que você nem vai ler, mas como esse fiapo de esperança estúpida dentro de mim nunca morre, continuo a escrever.
Acontece que sempre me vejo tanto em você! É aquela coisa saudosista de dizer que você é a continuação do que eu sou ou vice-versa. Não tenho mais tempo pra saudosismo, eu sei. E você não tem mais paciência, eu sei. Sabemos. Essa é a última vez, prometo. (E provavelmente essa é uma daquelas promessas que vou quebrar sem nem protelar.)

Desculpa por ser tão clichê, mais uma vez. Sei que não gosta. Desculpa por não estar usando xadrez, eu sei o quanto você gosta. Desculpa por entupir os salgados de ketchup, sei que você olha com cara feia mesmo dizendo que "gosta de ketchup", você nunca coloca em nada e torce o nariz se colocarem no seu lanche!
Desculpa por nunca mais ter devolvido seu CD favorito. É que manter isso aqui é como manter parte sua comigo.
Nesse momento você deve estar tomando absinto português e vendo coisas que nem existem - ou talvez existam em uma outra dimensão -, isso se não estiver tocando baixo, o que também é provável. Mas se estiver bebendo, sei que exatamente daqui uma hora você vai sentir vontade de voar, vai chorar. Vai chorar muito. Eu me pergunto pra quem você liga agora quando chora. Me pergunto se encontrou outra pessoa pra segurar tua mão e voar sem direção. Desculpa por desejar tanto que você não tenha ninguém agora já que não está aqui comigo. Não aprendi a te dividir, não aprendi a deixar ir aquilo que nunca me pertenceu. É que aquele dia você me beijou e eu esqueci de todo o resto do mundo. Eu decorei os teus lábios. Céus! EU DECOREI OS TEUS LÁBIOS. Isso me faz sentir mais louca do que o comum. A diferença é que quando você estava aqui comigo, eu nunca era louca. Aquilo era convicto.

Quão patético é chorar ouvindo The Smiths e lembrar do seu abraço? Como me desfaço disso? Você me prometeu cinquenta anos de conversas intermináveis e hoje não responde nem a um "oi" meu.

Eu nem ia escrever essa carta. É que eu vi uma pessoa devorando um sanduíche naquela lanchonete que frequentávamos e era exatamente o seu jeito de mastigar as coisas. Era engraçado. Eu resolvi escrever isso porque me fizeram uma pergunta, eu fiquei tímida e mudei de assunto imediatamente. Eu fiz aquilo que você fazia de ficar um seis segundos em silêncio olhando pra baixo e mudar de assunto, ainda olhando pra baixo. Isso sempre foi coisa mais sua do que minha. Todas as minhas atitudes sempre foram mais suas do que minhas.

Sinto sua falta. Volta um dia, tá? Nem que seja pra me cobrar teu CD. Tô com saudade da sua voz.

Espero que esteja bem.
Com amor,
A menina da camiseta do prisma.

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