Requiém de uma tempestade

domingo, 30 de março de 2014

Abri os olhos antes das nove da manhã. Não era o horário que eu acordava frequentemente, mas o sono simplesmente desapareceu. Perdi alguns minutos do meu tempo enrolada nos edredons observando as cores do meu céu. Há tempos meu universo era aquele quarto onde quase tudo era branco e marfim. Sentei na poltrona próxima à janela, abri as persianas, vi que o sol bradava lá fora. Haviam crianças brincando na pracinha em frente ao prédio. Invejei-as. Senti falta de quando a vida ainda tinha sabor de algodão-doce. Senti falta de quando eu ainda conseguia sentir conforto ao ser aquecida pela luz do dia ou deitar na grama dando forma às nuvens no céu.
Eram memórias distantes. Tudo o que eu passei a conhecer era sobre solidão. Descobri que a dor tinha som. Som de choro. Som de chuva. Som de música instrumental, quase como Clair De Lune. Em seus casos mais extremos, eu também poderia dizer que o som da dor se parecia com "Moonlight Sonata" de Beethoven. A tristeza tinha o mistério e profundidade da obra "The Crow" de Van Gogh. Que talvez, sofrer também fosse uma arte das mais masoquistas e sádicas ao mesmo tempo. Descobri que o poeta vive de sua angustia, dela vende e dela mantém-se vivo. E que bela ironia manter-se vivo quando tudo de mais humano em você já morreu! Artistas não fazem sentido tal como nada conhecido na existência faz sentido.
Que é o amor se não as flores jogadas sobre o túmulo de quem já desistiu de si próprio? Que é o amor, se não o último floco de neve quando o inverno acaba? Que é o amor, se não apenas um rastro de esperança mal guardada?
A vida é líquida e corre por entre os vãos dos dedos sem que ninguém perceba.
"Luz! Luz! Mais luz!" e de Goethe, faço essas também minhas palavras. Embora o quarto fosse claro, todo acúmulo de sentimentos me cegava. "Luz", gritava o espírito de Goethe assim como meu espírito grita. Mais luz.

2 comentários:

Anônimo disse...

ahhhhhhh Goethe... Fausto (das inquietas sombras) é dele também... curioso como ele escreveu tanto pras sombras quanto pra luz né?!

Enfim... tenho quase todos os dias o mesmo ritual que vós

Anônimo disse...

pretty nice blog, following :)