Cubo Mágico

domingo, 16 de setembro de 2012

Perdi alguns minutos dessa manhã de sexta-feira encarando no espelho um rosto que me parecia desconhecido. Barba mal feita, cabelo desajeitado, quase o aspecto de um mendigo. Eu estava perdido, outra vez. Era a mesma casa, o mesmo velho banheiro, mas eu não tinha ideia do que estava fazendo ali. Entenda: quando digo "ali", me refiro ao cotidiano que me envolvia. Já eram quase 11hrs de uma manhã nublada, procurei pelas chaves do carro, mas não me encontrei em condições de dirigir. 

Decidi caminhar ao ver a rua, a claridade. Tudo isso era estranho. Claro que via isso tudo, todos os dias. Mas hoje, parecia como se eu tivesse saído da sessão de cinema, aquelas que duram 3 horas e começam no fim de tarde. Se entra com dia claro, se sai com noite escura. E aquela noite parecia sempre mais escura. Mais estranha, mais irreal. Assim como essa claridade.


O primeiro passo. Virar de costas pra rua e trancar a porta. O tênis da caminhada ainda tinha uma prestação pra pagar ou eu já quitei? Não lembro. A rua. As pessoas. Tudo parecia vago e distante. Mais do que o habitual. Mais do que o corriqueiro. Devia ter pego os fones de ouvido... assim não precisaria sorrir falsamente e comprimentar, tão falsamente quanto sorrir, os vizinhos e conhecidos.

 Por que tudo parecia tão fora de conexão? Como se eu já não me encaixasse mais. Lembrei então de quando eu tinha aproximadamente 13 anos, uma tia me deu um "cubo mágico" que passei a levar comigo pra onde quer que eu fosse. Nunca consegui resolvê-lo, e era exatamente assim que me sentia: um cubo mágico. Indecifrável. Qualquer um poderia ter arracando meus blocos e tentado montar de suas próprias formas usando de trapaça. Afinal, eu era só um louco. Um solitário andando por uma vizinhança indiferente, sofrendo debaixo de um céu tão longe...

Uma esquina. O que me impedia de me jogar em frente desse trânsito? Olhei pra cima como se perguntasse a Deus isso. Quantas pessoas chorariam? Talvez só o dono da loja de calçados, chorando a divida do tênis que não terminou de ser paga. Ninguem mais sentiria a falta. Talvez, daqui algumas semanas, um vizinho comentasse com o outro "e que fim levou aquele cara que vagava sem rumo aqui pela rua?" ao que o outro responderia "ouvi dizer que voltou pra Minas, parece que tem parentes por lá...". E assim seria o meu fim. Malmente lembrado. Ameacei dar o fatidico passo. O sinal fechou. Sinal divino? Acreditei que era sinal divino então. Quando dei o último passo já do outro lado da rua vi algo que me lembrou uma velha amiga que tinha perdido o contato. Ela sempre me disse que, se eu não pudesse estar bem, era pra eu sobreviver a mais hoje. Apenas isso. Amanha teria de ser melhor. Suspirei acreditando nisso, mais uma vez.




Escrito por mim e pela Thata.

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