Gelo azul

domingo, 22 de março de 2015

Nesse exato momento resolvi sentar numa calçada qualquer em uma daquelas vielas da rua, sabe? Tipo quando a gente saía pra fumar em segredo e sentava em uma calçada qualquer. Eu acabei de fumar um cigarro, joguei a bituca de um jeito desajeitado, igual você fazia. Sei que você não gosta que eu fale de saudade, mas toda vez que eu sinto demais a sua falta, sempre que sinto que isso está me enlouquecendo, fumo um cigarro. Hoje faz 129 dias que você foi embora. Sei que também não gosta que eu conte. Continuo na inércia que eu sempre soube que ficaria quando você fosse embora. Nada mudou. Minha mente me ferra mais do que o comum às vezes, é como se nada nunca tivesse feito algum sentido mas antes você estava aqui pra me fazer esquecer isso. Você me obrigava a esquecer o quão doentío esse mundo é, mesmo quando eu não queria esquecer. Você me fazia criar planos mesmo quando eu não queria e eu sempre soube que isso me salvava de algum jeito.
Não tenho muitos planos agora. Tenho uma consulta na próxima semana, essa é a única anotação na agenda. Irônico, não? Eu era imortal. Eu me sentia imortal. Incansável. Que belo tapa na cara da vida! Perdi para o cansaço. Não vou me prolongar nisso aqui. Está garoando e eu preciso voltar pra casa. Não parece minha casa sem você lá, é só uma casa, ainda assim preciso ir.

Espero que esteja bem, de qualquer forma.